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Dora Alexandre1
Lisboa é o principal destino turístico nacional, e a sua reputação enquanto destino turístico de eleição tem vindo a consolidar-se com prestigiados prémios internacionais. No entanto, a hotelaria da nossa capital parece ainda não ter despertado para o facto de estar situada num continente cada vez mais envelhecido, e num país em que 18% da população tem algum tipo de incapacidade: a
oferta de quartos acessíveis representa menos de 2% da oferta total de alojamento lisboeta. A conclusão é do estudo “Turismo para Todos na Hotelaria de Lisboa – um custo ou um investimento”, realizado no âmbito de Mestrado na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (Alexandre, D., 2013).
O estudo tomou como amostra 100 hotéis de Lisboa que, na sua maioria, não veem no Turismo inclusivo uma prioridade ou uma oportunidade de negócio:
48% afirmaram já terem considerado o Turismo para Todos, mas ponderam ainda se merece ou não ser desenvolvido e 33% consideram que a aposta na inclusão de clientes com necessidades especiais é uma questão de responsabilidade/solidariedade social.
A criação de condições adequadas a clientes com necessidades especiais representa, no entanto, uma promissora oportunidade de negócio, comprovada por estudos realizados por vários países que já despertaram para esta realidade. É o caso da Alemanha, que apurou que o montante líquido anual de viajantes com limitações ronda os
2500 milhões de euros. Nos Estados Unidos, o segmento do Turismo Acessível representa rendimentos de mais de 200 milhões de dólares; no Reino Unido, estima-se um valor anual de dois mil milhões de libras em receitas provenientes de turistas com incapacidades e, na Austrália, os gastos destes turistas foram calculados entre cerca de 8 e 12 milhões de dólares australianos.
Na Europa, as receitas relativas ao Turismo Acessível variam entre 83 e 166 mil milhões de euros.
No que toca à
acessibilidade eletrónica, o estudo mostra que,
entre os 100 hotéis lisboetas analisados, nenhum cumpre os requisitos mínimos de acessibilidade definidos nas
Web Content Accessibility Guidelines (WCAG 2.0). Uma aferição realizada pelo
AccessMonitor da Unidade Acesso da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. E, de facto, quando testados por pessoas cegas, os websites melhor classificados pelo
AccessMonitor não permitiram a estas pessoas realizar uma reserva de forma autónoma. Numa escala que varia entre 1 e 10, os
websites analisados ficam-se por uma média de 4.3.
A fraca aposta dos hoteleiros de Lisboa nos clientes com incapacidades é também traduzida na informação que prestam:
em Lisboa, existem hotéis que dispõem de quartos adaptados mas não o anunciam no seu sítio online. Quando abordados telefonicamente, 77% dos hotéis assumiram ter quartos adaptados para pessoas com deficiência mas, nos
websites, apenas 47% o referem.
Uma realidade muito aquém da de outros países que já se adiantam na inclusão e na aposta num acolhimento universal. A inclusão não precisa de ter um aspeto ortopédico, basta adotar os princípios do design universal e usar de criatividade – a recompensa chegará em novos clientes e mais retorno económico – afinal, de acordo com estudos internacionais, os turistas com necessidades especiais são mais fiéis aos destinos, tendem a viajar com mais acompanhantes, a despender valores mais elevados, a optar por estadias mais prolongadas e ainda a contrariar a sazonalidade.
A Organização Mundial do Turismo atualizou neste mês de setembro de 2013 as recomendações de 2005 sobre o Turismo acessível a todos e prevê que, em 2020, as pessoas com algum tipo de incapacidade representarão 25% dos 1,56 mil milhões de chegadas mundiais.
Num contexto internacional iluminado pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), que Portugal também ratificou, é importante que o Turismo – e neste caso a Hotelaria – deem o seu contributo para a criação de uma sociedade para Todos. Com a vantagem de poderem retirar dessa aposta o devido proveito económico.
Dora Alexandre,
Jornalista programa Consigo, RTP2/INR, I.P.
Mestre em Turismo, ESHTE
Referências bibliográficas
- Alexandre, D. (2013). O Turismo para Todos na Hotelaria de Lisboa – um custo ou um investimento? Estoril: Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.
- Department for Culture, Media and Sport. (2010). Accessible Tourism: Making it work for your business. Londres: Department for Culture, Media and Sport.
- Neumann, P. e Reuber, P. (2004). Estímulos económicos do turismo acessível para todos, Ministério Federal da Economia e do Trabalho Alemão (BMWA). Munique e Berlim: BMWA.
- Dwyer, L. e Darcy, S. (2008). The economic contribution of accessible tourism to the australian economy. In Darcy et al (Ed.) Visitor Accessibility in Urban Centres (pp.21-34). Gold Coast, Queensland: The Sustainable Tourism Cooperative Research Centre.
- Arola, E., Cooper, C. e Cooper, R. (2011). Encounters of disabled customers on the tourism stage. In Buhalis, D. e Darcy, S. (Ed.), Accessible Tourism Concepts and issues (pp. 139-148). Bristol: Charlesworth Press.
- Buhalis, D., Eichhorn, V., Michopoulou, E. e Miller, G. (2006). Accessibility Market and Stakeholder Analysis 2005. OSSATE/ University of Surrey, 2006. Consultado a 19 novembro, 2011, em http://www.ossate.org/doc_resources/OSSATE_Market&Stakeholder%20Analysis_Public_Version_Fina..pdf