Quando Édipo decifrou o enigma da Esfinge não só sobreviveu como demonstrou o conhecimento das tecnologias de apoio para pessoas com deficiência. De fato, só o animal homem recorre a um instrumento, externo ao seu corpo, para minorar os efeitos que o envelhecimento tem no equilíbrio e na marcha: a bengala.
É da aproximação do engenho humano e da necessidade gerada pelas doenças que nasce esta importante simbiose entre a tecnologia e a biologia.
Ao longo dos anos fomos compreendendo as necessidades resultantes dos múltiplos males que podem afetar o corpo humano e, por outro lado, fomos desenvolvendo tecnologias que, porventura, pretendem até a recriação do ser humano em laboratório em competição com as leis da natureza.
Vivemos hoje um período invulgar de explosão tecnológica e de saber biológico. Cada vez se é mais eficaz nas lutas contra as adversidades que retiram a vida, e cada vez estamos mais alerta para as insuficiências que lhe limitam a qualidade. Compreendemos melhor os mecanismos adaptativos do corpo, em particular os do sistema nervoso, que lhe permitem um diálogo funcional eficaz com os mecanismos externos. Estudar a resposta adaptativa do corpo a esses mecanismos melhora o conhecimento que, por sua vez, permite o desenvolvimento de modelos cada vez mais fisiológicos.
O livro que agora tenho o gosto de apresentar é um importante contributo para o desenvolvimento deste tema no nosso país. Quase como um glossário, identifica-nos os elementos necessários para a compreensão, quer das deficiências do corpo que constituem oportunidades e motivo para procurar soluções, quer para as soluções possíveis que têm vindo a ser propostas.
Este é um campo em franco desenvolvimento para o qual os autores têm contribuído de forma significativa no nosso país. Tem o único risco de se desatualizar rapidamente porque rápido é também o desenvolvimento de novas soluções.
É necessário que a reabilitação em Portugal abra francamente as portas a este novo conhecimento e que ponha em prática a sua utilização. Mas é necessário também que se promova uma política de saúde adaptada a esta nova exigência.
Na Europa começa a organizar-se a legislação apropriada, necessitamos de dar corpo a essa legislação para bem daqueles que podem ser ajudados e que sofrem por saber que existem soluções que eventualmente lhes escapam.
Alexandre Castro Caldas
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